Na lista de 19 iniciativas legislativas prioritárias para o governo que Bolsonaro entregou à Câmara na semana passada, o quinto item me chamou a atenção, mas não teve muito destaque na mídia: "PL 191/2- _ Mineração em terras indígenas: regulamenta a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em reservas". Assinado pelo presidente no dia 5 de fevereiro do ano passado, quando o governo completava 400 dias, o projeto nunca seria colocado em pauta pelo então presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Agora, com o Centrão finalmente no poder, a porteira foi aberta para passar a boiada na Amazônia.
Liberar os garimpos nas reservas indígenas é uma antiga obsessão de Bolsonaro, desde a sua chegada à Câmara como deputado do baixo clero, em 1991. Em sua juventude, o presidente conta que chegou a trabalhar em garimpo.
Quem mais se empolgou na solenidade de lançamento do projeto foi o ex-ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que agora voltará ao Planalto como secretário-geral: "Pois hoje, presidente, com sua assinatura será a libertação.
Nós teremos a partir de agora a autonomia dos povos indígenas e sua liberdade de escolha. Ou seja, será a Lei Áurea". O que acontecerá agora, na verdade, não é autorizar a invasão de garimpos nas terras indígenas, que já acontece em escala crescente desde a posse de Bolsonaro.
Trata-se apenas da oficialização de uma situação de fato, que está envenenando com mercúrio as águas das aldeias, provocando doenças e mortes de índios em suas reservas demarcadas previstas na Constituição.
Diante do Palácio do Planalto, no dia 2 de outubro de 2019, Bolsonaro subiu numa cadeira para falar a meia dúzia de garimpeiros de Serra Pelada que pediam a intervenção das Forças Armadas no antigo garimpo.
E deu a senha, ao criticar as ONGs ambientalistas que defendem a preservação da Amazônia: "O interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério".
"Por um momento, vi ali reencarnado o famigerado major Sebastião Rodrigues de Moura, alcunhado de Curió, nomeado pelo general João Figueiredo, o último dos ditadores militares, para ser interventor plenipotenciário no maior garimpo a céu aberto do mundo".
Curió, que mais tarde seria recebido por Bolsonaro em audiência no Palácio do Planalto, foi o último símbolo da ditadura militar, com poder de vida e morte sobre os miseráveis civis, lavradores do sul do Pará e do sudoeste do Maranhão, que largaram tudo e correram em busca do ouro "como nunca se viu" na terra prometida de Serra Pelada....
https://noticias.uol.com.br/colunas/balaio-do-kotscho/2021/02/09/garimpo-em-terras-indigenas-prioridade-de-bolsonaro-e-reviver-serra-pelada.htm
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